Sífilis: Causas, Tratamento e Diagnóstico

Entenda o que é sífilis, como se pega, quais são as fases da doença, os principais exames laboratoriais (VDRL, testes rápidos, treponêmicos) e as formas de tratamento e prevenção.

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Ariéu Azevedo Moraes

2/3/20255 min ler

biomedico tirando uma dose do reagente com uma pipeta, para titulação do vdrl
biomedico tirando uma dose do reagente com uma pipeta, para titulação do vdrl

Sífilis: o que é, como se transmite, exames laboratoriais e prevenção

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum e, apesar de antiga, continua muito presente na realidade dos serviços de saúde. Ela pode passar anos silenciosa no organismo, mas, quando não tratada, provoca complicações graves que vão desde lesões de pele até acometimento neurológico e cardiovascular.

A transmissão ocorre principalmente por contato sexual desprotegido, por via transplacentária (sífilis congênita) e, em alguns casos, por transfusão de sangue ou acidentes com material biológico. Por ser uma doença que muda de fase, com sintomas que aparecem e desaparecem, o diagnóstico depende muito da suspeita clínica associada aos exames laboratoriais, como testes rápidos, VDRL e exames treponêmicos.

Neste artigo, vamos explicar o que é a sífilis, como se transmite, quais são suas fases clínicas, quais exames o laboratório utiliza para o diagnóstico e como funciona o tratamento e a prevenção, tanto na prática clínica quanto no contexto da saúde pública.

A sífilis se desenvolve em quatro fases clínicas, cada uma com características próprias:

1. Sífilis Primária

Essa fase é marcada pelo surgimento de uma lesão conhecida como cancro duro, uma úlcera indolor que aparece no local da infecção — geralmente nos órgãos genitais, região anal ou na boca. A úlcera desaparece espontaneamente em algumas semanas, o que pode levar à falsa impressão de cura.

2. Sífilis Secundária

Sem tratamento, a infecção progride para a fase secundária, com manifestações sistêmicas como erupções cutâneas (inclusive nas palmas das mãos e plantas dos pés), febre, mal-estar, dores musculares e linfonodos aumentados. É uma fase altamente contagiosa.

3. Fase Latente

Quando não tratada, a sífilis entra em um estágio assintomático chamado de fase latente, que pode durar anos. Embora a pessoa infectada não apresente sintomas, a bactéria continua ativa no organismo.

4. Sífilis Terciária

A fase mais grave e rara, a sífilis terciária, pode surgir anos depois da infecção inicial, afetando o coração, cérebro, ossos e sistema nervoso central. Nessa etapa, as complicações são muitas vezes irreversíveis, podendo levar à cegueira, demência ou até morte.

Como a Sífilis é Transmitida?

A sífilis é uma IST causada pela bactéria Treponema pallidum, transmitida principalmente por relação sexual desprotegida e da mãe para o bebê durante a gestação. O diagnóstico é feito por exames laboratoriais, como testes rápidos, VDRL e exames treponêmicos, e o tratamento adequado com antibiótico evita complicações graves e a transmissão.

A sífilis é transmitida principalmente por meio de relações sexuais desprotegidas, incluindo sexo vaginal, anal e oral. A transmissão ocorre pelo contato direto com as lesões infecciosas, que podem estar nos genitais, ânus ou boca.

No entanto, a infecção também pode ocorrer de forma vertical, ou seja, da mãe para o bebê durante a gestação, o que pode causar sífilis congênita, uma condição grave que pode levar a aborto, natimortalidade ou complicações neonatais.

Importante: a transmissão pode ocorrer mesmo na ausência de sintomas visíveis, especialmente durante as fases primária e secundária. Por isso, a prevenção e a testagem regular são fundamentais.

Diagnóstico Laboratorial da Sífilis

O diagnóstico da sífilis é feito com base na avaliação clínica e em exames laboratoriais. Os principais testes usados são classificados em dois grupos:

Testes Não Treponêmicos

  • VDRL (Venereal Disease Research Laboratory)

  • RPR (Rapid Plasma Reagin)

Esses testes detectam anticorpos não específicos produzidos como resposta à infecção. São úteis como exames de triagem, mas podem gerar falsos positivos em casos de doenças autoimunes, gravidez, infecções virais ou até mesmo vacinação recente.

Testes Treponêmicos

  • FTA-ABS (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption)

  • MHA-TP (Microhemagglutination assay for Treponema pallidum)

Os testes treponêmicos detectam anticorpos específicos contra o Treponema pallidum, sendo usados para confirmar o diagnóstico após um teste não treponêmico positivo. Eles permanecem positivos para a vida inteira, mesmo após o tratamento bem-sucedido.

Diferenças entre VDRL e FTA-ABS

Característica VDRL FTA-ABS Tipo de teste Não treponêmico Treponêmico Especificidade Baixa Alta Falso positivo Comum em outras doenças Raro Uso principal Triagem e monitoramento Confirmação diagnóstica Positividade pós-tratamento Pode negativar com o tempo Permanece positivo

Ambos os testes são complementares e essenciais para um diagnóstico preciso, especialmente em casos em que os sintomas são sutis ou ausentes.

Tratamento da Sífilis

O tratamento da sífilis é altamente eficaz quando iniciado precocemente. A penicilina benzatina é o medicamento de escolha e pode ser administrada em dose única para casos de sífilis primária e secundária.

Em situações mais avançadas ou em casos de sífilis latente ou terciária, o tratamento exige doses múltiplas ao longo de três semanas. Pacientes alérgicos à penicilina podem ser tratados com doxiciclina ou azitromicina, mas o acompanhamento médico é essencial.
Além do tratamento individual, é importante:

  • Testar e tratar os parceiros sexuais;

  • Evitar relações sexuais até a conclusão do tratamento;

  • Realizar exames de controle nos meses seguintes (geralmente aos 3, 6 e 12 meses).

Sífilis na Gestação e Sífilis Congênita

A sífilis na gravidez é uma das principais causas evitáveis de morbimortalidade fetal. O teste para sífilis é obrigatório durante o pré-natal, devendo ser repetido no terceiro trimestre e no momento do parto, conforme o protocolo do Ministério da Saúde.

A sífilis congênita ocorre quando a infecção é transmitida para o feto. Os riscos incluem:

  • Aborto espontâneo;

  • Parto prematuro;

  • Malformações congênitas;

  • Morte neonatal.

O tratamento adequado da gestante e do parceiro pode evitar totalmente essas complicações.

Prevenção: a Melhor Estratégia

A prevenção da sífilis envolve múltiplas abordagens:

  • Uso consistente de preservativos de látex ou poliuretano em todas as relações sexuais;

  • Realização de testes regulares, especialmente para pessoas com múltiplos parceiros sexuais ou que pertencem a populações de risco;

  • Educação sexual, com informações claras sobre ISTs;

  • Combate ao estigma, incentivando o diálogo aberto sobre saúde sexual;

  • Acesso a serviços de saúde, com testagem gratuita e sigilosa disponível em postos de saúde e centros especializados.

Campanhas de conscientização e políticas públicas voltadas à testagem e ao tratamento gratuito são essenciais para reduzir a incidência da sífilis no Brasil e no mundo.

A Sífilis no Brasil: Situação Atual

De acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, a sífilis continua sendo um desafio para o sistema público de saúde, com aumento de casos nos últimos anos, inclusive entre gestantes e recém-nascidos. Em 2022, foram notificados mais de 167 mil casos de sífilis adquirida, com taxa de detecção crescente.

Esse cenário reforça a necessidade de estratégias robustas de prevenção, testagem e tratamento precoce, além da ampliação de campanhas informativas para toda a população.

Finalizamos assim:

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível potencialmente grave, mas completamente tratável quando diagnosticada a tempo. Com educação, testagem e tratamento adequados, é possível interromper sua cadeia de transmissão e proteger a saúde de milhões de pessoas.

A responsabilidade pela prevenção da sífilis é compartilhada entre indivíduos, profissionais de saúde e gestores públicos. Por isso, conhecer, testar e tratar são os pilares fundamentais para combater essa IST silenciosa, porém perigosa.

Referências

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