Proteinúria e Função Renal: O que a urina revela

Explore o que a presença de proteínas na urina pode indicar sobre a saúde dos rins. Conheça os tipos de proteinúria, exames laboratoriais envolvidos e como essa alteração pode sinalizar doenças renais.

URINÁLISEBIOQUÍMICA

Ariéu Azevedo Moraes

4/25/20253 min ler

termômetro, densímetro e coletor de urina
termômetro, densímetro e coletor de urina

Proteinúria e função renal: o que a urina revela?

Introdução

A urina é uma das fontes mais acessíveis e informativas de dados sobre a saúde humana. Dentro das rotinas de análises clínicas, um dos achados laboratoriais mais relevantes é a proteinúria, ou seja, a presença de proteínas na urina. Esse sinal bioquímico pode ser o primeiro alerta de uma alteração renal, muitas vezes silenciosa, como ocorre nas nefropatias crônicas ou em complicações do diabetes e da hipertensão arterial.

Neste artigo, vamos explorar o que é, por que ela ocorre, os principais exames laboratoriais utilizados para identificá-la e interpretá-la, e como ela se relaciona com a função renal.

"A urina não mente. Quando bem interpretada, ela conta a história silenciosa dos rins." — Ariéu Azevedo Moraes, biomédico especialista.

O que é proteinúria?

A proteinúria é definida como a excreção anormal de proteínas na urina. Em indivíduos saudáveis, pequenas quantidades de proteínas podem estar presentes, mas quantidades elevadas indicam algum grau de comprometimento na filtração renal.

Os glomérulos renais atuam como filtros que impedem a passagem de proteínas plasmáticas. Quando esse mecanismo falha, as proteínas passam a atravessar a barreira glomerular, caracterizando-a.

Tipos de proteinúria

1. Proteinúria transitória

  • Pode ocorrer após febre, exercícios intensos, estresse ou desidratação.

  • Geralmente, é benigna e temporária.

2. Proteinúria ortostática (postural)

  • Afeta principalmente adolescentes.

  • Proteínas aparecem na urina quando o paciente está em pé, mas não quando está deitado.

3. Proteinúria persistente

  • Indica dano renal crônico ou agudo.

  • Pode estar associada a glomerulonefrites, diabetes, hipertensão, lúpus, entre outras doenças.

4. Albuminúria (micro e macro)

  • Especificamente, refere-se à presença de albumina, a principal proteína plasmática.

  • Microalbuminúria é precoce e indicativa de lesão renal inicial, especialmente em diabéticos.

Exames laboratoriais para detecção de proteinúria

Os exames laboratoriais são fundamentais para o rastreio e monitoramento da proteinúria e da função renal. Entre os principais exames utilizados estão:

1. EAS (Exame de urina tipo I)

  • Avalia diversos parâmetros, incluindo a presença de proteínas.

  • Fita reagente detecta albumina de forma semi-quantitativa.

2. Proteinúria de 24 horas

  • Mede com precisão a quantidade total de proteína excretada na urina.

  • Valores superiores a 150 mg/24h são considerados anormais.

3. Relação Proteína/Creatinina (PCR)

  • Feita em amostra isolada de urina.

  • Corrige a concentração de proteína pela creatinina, facilitando o monitoramento.

4. Microalbuminúria (ou albuminúria)

  • Detecta pequenas quantidades de albumina.

  • Indicada para pacientes com diabetes ou hipertensão.

5. Clearance de creatinina e TFG (Taxa de Filtração Glomerular)

  • Embora não avaliem diretamente a proteinúria, são essenciais para avaliar a função renal.

  • TFG < 60 mL/min/1,73m² por mais de 3 meses é critério de doença renal crônica.

Causas clínicas associadas à proteinúria

A presença de proteínas na urina pode estar associada a diversas condições, desde fisiológicas até patologias graves:

Doenças renais primárias

  • Glomerulonefrite

  • Nefropatia membranosa

  • Doença de mínimas alterações (em crianças)

Doenças sistêmicas

  • Diabetes mellitus (nefropatia diabética)

  • Hipertensão arterial sistêmica

  • Lúvus eritematoso sistêmico

  • Amiloidose

Outras causas

  • Medicamentos nefrotóxicos (AINES, inibidores de calcineurina)

  • Infecções urinárias

  • Mieloma múltiplo (proteinúria de Bence-Jones)

A história por trás da urina: um caso clínico

Maria Aparecida, 57 anos, hipertensa há 10 anos, foi encaminhada ao laboratório para exames de rotina. O resultado do EAS revelou presença de proteínas (++). Foi solicitado então um exame de proteinúria de 24h, que indicou excreção de 780 mg/24h. Após avaliação nefrológica, Maria foi diagnosticada com nefropatia hipertensiva em estágio inicial. A detecção precoce possibilitou iniciar medidas para preservar a função renal e retardar o avanço da doença.

Casos como esse reforçam o valor das análises clínicas no rastreio de doenças silenciosas e reforçam a atuação do biomédico como elo essencial entre a prevenção e o diagnóstico precoce.

Considerações finais

A presença de proteínas na urina é mais do que um dado laboratorial: é um sinal que merece investigação cuidadosa. Por meio de exames simples, acessíveis e eficazes, é possível identificar precocemente alterações na função renal, contribuindo para um melhor prognóstico e qualidade de vida dos pacientes.

A Biomedicina e as análises clínicas têm papel fundamental nesse processo, demonstrando como a urina pode, de fato, revelar muito sobre a saúde geral do organismo.

Referências

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