Parasitologia na era moderna: como os exames evoluíram com a tecnologia

Entenda como a parasitologia moderna evoluiu com novas tecnologias, incluindo métodos imunológicos e moleculares, e como esses avanços melhoram o diagnóstico de parasitoses e fortalecem a saúde pública.

COLETA E PREPAROPARASITOLOGIABIOLOGIA MOLECULAR E BIOTECNOLOGIA

Ariéu Azevedo Moraes

5/12/20255 min ler

Biomédica analisando em um microscópio
Biomédica analisando em um microscópio

A parasitologia deixou de ser apenas “olho no microscópio”, hoje ela também é ciência de dados, automação e diagnóstico de alta precisão.


Durante muito tempo, essa área foi vista como uma das mais tradicionais das análises clínicas, marcada pelo trabalho manual detalhado e pela dependência quase exclusiva da microscopia. E sim: essa base continua indispensável. Mas a rotina moderna do laboratório mudou.

Com o avanço tecnológico, os exames parasitológicos evoluíram para métodos mais rápidos, sensíveis e integrados. Técnicas de concentração aprimoradas, testes imunológicos, diagnóstico molecular, automação de etapas pré-analíticas e até ferramentas digitais de apoio à decisão vêm transformando a forma como o laboratório detecta parasitas intestinais, sanguíneos e teciduais.

Esse salto não é apenas técnico — é estratégico. Em um cenário de urbanização, mudanças ambientais e aumento de parasitas emergentes, a parasitologia moderna se torna peça-chave na saúde pública, no diagnóstico clínico mais assertivo e na redução de subdiagnósticos que ainda impactam crianças, idosos e populações vulneráveis.

Neste artigo, você vai entender como os exames parasitológicos se transformaram, quais tecnologias já fazem parte da rotina atual e de que forma esses avanços estão redefinindo o papel da biomedicina na investigação e no controle das parasitoses.

Parasitologia tradicional: fundamentos e limitações

A parasitologia clássica tem como principal ferramenta o exame parasitológico de fezes (EPF). Esse exame visa detectar a presença de ovos, cistos, larvas ou trofozoítos de parasitas intestinais. Ele é fundamental em regiões com condições sanitárias precárias ou populações vulneráveis, como crianças em idade escolar.

As técnicas mais utilizadas incluem:

  • Sedimentação espontânea (Lutz): método simples e econômico, baseado na gravidade para separar elementos parasitários das fezes.

  • Flutuação (Faust): utiliza soluções hiperdensas para isolar cistos e ovos.

  • Método de Kato-Katz: útil para quantificação de ovos de helmintos em campanhas de saúde pública.

  • Fita gomada (Graham): indicado para o diagnóstico de Enterobius vermicularis (oxiúros).

Essas técnicas são eficazes, mas dependem fortemente da experiência do analista. A variabilidade interobservador, a necessidade de coleta em múltiplas amostras e a baixa sensibilidade em infecções leves ainda são limitações enfrentadas.

Evolução tecnológica e inovações na parasitologia

1. Digitalização e análise automatizada

A integração da tecnologia digital na leitura de lâminas parasitológicas representa um dos avanços mais significativos. Sistemas de escaneamento e inteligência artificial estão sendo desenvolvidos para auxiliar na identificação automatizada de estruturas parasitárias. Equipamentos como o AIPathway™ utilizam algoritmos treinados para reconhecer padrões específicos de ovos e cistos.

Isso permite:

  • Redução do tempo de leitura;

  • Aumento da padronização dos resultados;

  • Otimização da rotina laboratorial em grandes volumes.

2. Testes imunológicos e rápidos

Os imunoensaios vieram para complementar os métodos convencionais, especialmente na triagem rápida de pacientes em ambulatórios, hospitais ou surtos epidêmicos. Testes imunocromatográficos detectam antígenos de parasitas como:

  • Giardia lamblia;

  • Cryptosporidium spp.;

  • Entamoeba histolytica/dispar.

Esses testes são simples, rápidos (resultados em até 20 minutos) e não requerem microscopia, o que os torna ideais para locais com infraestrutura reduzida.

3. Biologia molecular e PCR

A biologia molecular revolucionou a parasitologia ao permitir a detecção direta do material genético dos parasitas. A técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), incluindo a qPCR (quantitativa), vem sendo aplicada para identificar parasitas com sensibilidade e especificidade superiores aos métodos tradicionais.

É possível:

  • Diferenciar espécies morfologicamente semelhantes, como Entamoeba histolytica x E. dispar;

  • Detectar infecções com carga parasitária baixa;

  • Monitorar casos de toxoplasmose congênita;

  • Realizar painéis multiplex para várias espécies simultaneamente.

Em centros de pesquisa, o uso do sequenciamento de nova geração (NGS) está em crescimento, permitindo o estudo genético aprofundado de cepas parasitárias e sua resistência a fármacos.

Impactos positivos no diagnóstico e na saúde pública

O uso de tecnologias avançadas possibilitou a detecção mais precoce e precisa de parasitoses, o que é essencial para reduzir complicações clínicas e evitar a disseminação em comunidades.

Nos sistemas de saúde pública, os exames mais sensíveis possibilitam:

  • Ações mais efetivas em campanhas de desparasitação;

  • Identificação de surtos e monitoramento de regiões endêmicas;

  • Integração com bancos de dados georreferenciados para ações de controle.

Esses avanços reforçam o papel estratégico da parasitologia moderna como ferramenta de vigilância epidemiológica.

O biomédico e o futuro da parasitologia

O profissional de biomedicina que atua na parasitologia precisa hoje dominar uma ampla gama de conhecimentos: desde a morfologia clássica até técnicas de biologia molecular e interpretação de testes rápidos.

Além disso, é fundamental desenvolver habilidades com plataformas digitais, softwares de leitura automatizada e sistemas de informação laboratorial. O perfil ideal é o de um biomédico versátil, com pensamento crítico e atualização constante.

Para Ariéu Azevedo Moraes, biomédico e especialista em gestão laboratorial, "a parasitologia está longe de ser uma ciência do passado. Ela se moderniza junto com o laboratório clínico e segue essencial, especialmente em um país com grandes desigualdades sanitárias como o Brasil".

Desafios e perspectivas

Apesar dos avanços, o acesso desigual à tecnologia ainda é um desafio. Muitos laboratórios públicos e privados de pequeno porte ainda dependem exclusivamente dos métodos clássicos, o que torna essencial investir em capacitação e parcerias com centros de referência.

A tendência futura inclui:

  • Integração entre exames parasitológicos, microbiológicos e moleculares em painéis únicos;

  • Uso de aplicativos móveis para apoio ao diagnóstico em campo;

  • Expansão do uso da IA para validação automatizada de laudos.

Considerações finais

A parasitologia laboratorial é uma ciência em constante transformação. O uso de tecnologias como PCR, testes rápidos e sistemas digitais eleva a qualidade do diagnóstico, reduz o tempo de resposta e amplia a efetividade do controle de doenças parasitárias.

Para os profissionais da saúde, sobretudo os da área de análises clínicas, a atualização contínua é essencial para acompanhar essa evolução. E para a população, o maior beneficiado é o paciente: que recebe diagnósticos mais confiáveis e tratamentos mais eficazes.

Referências

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