O Hemograma, sua clínica e correlação com a Dengue

O coeficiente de casos positivos de dengue no Brasil segundo a Agência Brasil é de 3.701,1 para cada 100 mil habitantes. fonte: agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-08/.

HEMATOLOGIA

Ariéu Azevedo Moraes

1/13/20255 min ler

tubos de coleta de sangue em rack para passar em equipamento de análises clínicas
tubos de coleta de sangue em rack para passar em equipamento de análises clínicas

O Que é o Exame de Hemograma? Entenda a Importância Desse Exame de Sangue

O hemograma é um dos exames laboratoriais mais solicitados na prática médica e, embora seja simples e rápido, seu poder diagnóstico é impressionante. Ele funciona como um verdadeiro retrato do sangue, revelando pistas valiosas sobre o estado geral de saúde do paciente. É por meio dele que se pode avaliar os principais componentes do sangue: os glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos e as plaquetas — cada um com uma função vital e interligada ao equilíbrio do organismo.

Os glóbulos vermelhos, também chamados de eritrócitos, são os responsáveis pelo transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos do corpo, além de remover o gás carbônico produzido pelas células. Alterações na quantidade ou na forma dessas células podem indicar condições como anemia, desidratação ou até doenças mais complexas. Já os glóbulos brancos, ou leucócitos, atuam na linha de frente da defesa imunológica. Suas alterações quantitativas ou qualitativas sinalizam a presença de infecções, inflamações ou até distúrbios hematológicos, como leucemias. Por fim, temos as plaquetas, pequenas células cuja principal função é garantir a coagulação do sangue e prevenir hemorragias. Uma contagem baixa ou alta de plaquetas pode indicar distúrbios de coagulação, infecções virais ou até mesmo doenças autoimunes.

O hemograma é feito a partir de uma amostra de sangue coletada por punção venosa e analisada em laboratório. Apesar de ser um exame comum em consultas de rotina, sua versatilidade o torna indispensável também em emergências médicas. A interpretação correta dos resultados deve sempre considerar o quadro clínico do paciente e, muitas vezes, ser complementada por outros exames. É importante que os resultados não sejam analisados isoladamente, mas dentro do contexto do histórico médico e dos sintomas apresentados.

Componentes e Índices Avaliados no Hemograma

Para que se compreenda melhor a utilidade do hemograma, vale explorar os principais índices hematológicos analisados nesse exame.

Um dos primeiros dados observados é o hematócrito, que representa a porcentagem de glóbulos vermelhos em relação ao volume total de sangue. Ele ajuda a avaliar o estado de hidratação e o volume de células vermelhas disponíveis para o transporte de oxigênio. Já a hemoglobina — proteína presente nos glóbulos vermelhos — é essencial para a oxigenação dos tecidos. Níveis baixos de hemoglobina são um dos principais indicativos de anemia, enquanto valores muito altos podem sugerir doenças pulmonares ou cardíacas.

A contagem de leucócitos é outro ponto crucial. A elevação dessa contagem pode indicar infecções bacterianas, enquanto uma queda pode apontar infecções virais ou problemas na medula óssea. No caso das plaquetas, o hemograma pode detectar trombocitopenia (baixa contagem), que aumenta o risco de sangramentos, ou trombocitose (alta contagem), que pode aumentar o risco de trombose.

Além desses parâmetros principais, o hemograma fornece uma série de índices hematimétricos, que ajudam na investigação mais aprofundada de anemias e outras patologias:

  • VCM (Volume Corpuscular Médio): indica o tamanho médio dos glóbulos vermelhos, sendo útil para classificar anemias como microcítica, normocítica ou macrocítica.

  • HCM (Hemoglobina Corpuscular Média): informa a quantidade média de hemoglobina em cada glóbulo vermelho.

  • CHCM (Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média): reflete a concentração média de hemoglobina nos glóbulos vermelhos.

Esses índices permitem identificar padrões e traçar hipóteses diagnósticas com mais precisão, colaborando na construção de um plano terapêutico eficiente.

Hemograma na Detecção de Dengue e Infecções Virais

Além de doenças crônicas e carenciais, o hemograma é extremamente útil no contexto das infecções agudas, como a dengue. Essa doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, causa alterações características nos parâmetros hematológicos que ajudam no diagnóstico e no monitoramento da evolução clínica.

Uma das alterações mais marcantes nos casos de dengue é a trombocitopenia, ou seja, a queda acentuada no número de plaquetas. Isso ocorre porque o vírus da dengue afeta diretamente a produção e a sobrevivência dessas células, o que pode aumentar o risco de hemorragias. Além disso, é comum observar leucopenia (redução no número de leucócitos), um indicativo de que o sistema imunológico está sendo afetado.

Segundo o Ministério da Saúde, o hemograma deve ser solicitado com frequência durante os primeiros dias de infecção por dengue, para monitorar a progressão da doença e identificar precocemente complicações, como a dengue hemorrágica1.

O acompanhamento da evolução do hemograma ao longo dos dias permite avaliar se o paciente está melhorando ou se há sinais de agravamento. Por isso, o exame se torna uma ferramenta vital não só para diagnosticar, mas também para guiar a conduta médica, especialmente nos casos mais graves.

A Importância do Hemograma na Avaliação das Anemias

Outra aplicação extremamente relevante do hemograma é na identificação e classificação das anemias, condição caracterizada pela redução na capacidade do sangue de transportar oxigênio. Essa deficiência pode se dar por diferentes causas, como deficiência de ferro, vitaminas, doenças crônicas ou problemas na medula óssea.

O hemograma permite não apenas diagnosticar a anemia, mas também definir seu tipo e sua causa provável. Por exemplo:

  • Na anemia ferropriva, provocada por deficiência de ferro, é comum encontrar hemoglobina e hematócrito baixos, VCM reduzido e CHCM diminuído.

  • Na anemia megaloblástica, causada por deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, o VCM está elevado, revelando glóbulos vermelhos maiores que o normal.

  • Já na anemia aplástica, uma condição grave relacionada à falência da medula óssea, o hemograma apresenta redução acentuada em todos os tipos de células do sangue (pancitopenia).

Identificar corretamente o tipo de anemia é essencial para direcionar o tratamento. A suplementação de ferro, a reposição vitamínica ou o encaminhamento para investigação mais profunda com exames como mielograma ou biópsia de medula óssea podem ser indicados, dependendo do caso.

Conclusão

O hemograma é, sem dúvidas, um exame simples em sua execução, mas complexo e poderoso em sua interpretação. Ele é uma ferramenta indispensável tanto em avaliações de rotina quanto em situações críticas, fornecendo dados fundamentais para o diagnóstico, acompanhamento e prevenção de uma série de condições de saúde. Seja para investigar um cansaço persistente, monitorar uma infecção viral ou detectar sinais de uma doença mais grave, o hemograma sempre terá um papel importante na prática clínica.

Priorizar exames regulares, como o hemograma, é um investimento em saúde preventiva. Ao entender melhor os sinais que o corpo transmite através do sangue, podemos agir com mais rapidez e eficácia, promovendo qualidade de vida e bem-estar a longo prazo.

Referências

  1. Ministério da Saúde. Dengue: diagnóstico e manejo clínico. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br

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