Exames laboratoriais em crianças, desafios na coleta

Entenda os principais desafios da coleta e interpretação de exames laboratoriais em crianças, com dicas práticas para profissionais da saúde e informações essenciais para os pais.

COLETA E PREPAROHORMÔNIOS E VITAMINASHEMATOLOGIA

Ariéu Azevedo Moraes

4/21/20252 min ler

Óculos de realidade aumentada em criança, artifício para coleta de sangue
Óculos de realidade aumentada em criança, artifício para coleta de sangue

Exames laboratoriais em crianças: desafios na coleta e interpretação

Introdução

Quando falamos sobre exames laboratoriais em pediatria, os desafios vão muito além da agulha. O medo, a ansiedade, o jejum e até mesmo os parâmetros de referência que mudam conforme a idade são aspectos que tornam essa prática única. A coleta e a interpretação de exames em crianças exigem não só habilidade técnica, mas também sensibilidade, empatia e conhecimento aprofundado.

A coleta em crianças: por que é tão desafiadora?

Particularidades anatômicas e emocionais

A coleta de amostras biológicas em crianças apresenta obstáculos singulares:

  • Veias finas e delicadas, dificultando a punção;

  • Medo e resistência, especialmente em crianças pequenas;

  • Maior sensibilidade à dor e ao ambiente desconhecido;

  • Volume de sangue limitado: o total coletado deve ser rigorosamente controlado, especialmente em recém-nascidos.

Estratégias para minimizar o estresse

  • Técnicas de distração: brinquedos, música ou realidade aumentada;

  • Presença dos pais durante a coleta;

  • Profissionais treinados em abordagem lúdica e comunicação com crianças.

Principais exames laboratoriais em pediatria

Hemograma completo

Utilizado para investigar anemias, infecções e distúrbios hematológicos. Os valores de referência variam bastante entre recém-nascidos, lactentes e adolescentes.

EAS (exame de urina tipo 1)

Importante para detectar infecções urinárias, um problema comum na infância.

Glicemia

Útil na triagem de hipoglicemia neonatal, diabetes tipo 1 e distúrbios metabólicos.

Eletrólitos (sódio, potássio, cálcio)

Essenciais para avaliar o estado de hidratação e distúrbios eletrolíticos.

Exames hormonais

TSH e T4 livre são solicitados no rastreamento neonatal e em casos de suspeita de disfunção tireoidiana.

Interpretação de exames: um capítulo à parte

A importância dos valores de referência específicos por idade

Diferente dos adultos, as crianças têm padrões fisiológicos únicos que mudam conforme crescem. Um exemplo é a contagem de linfócitos:

  • Em recém-nascidos, linfócitos são elevados naturalmente;

  • Com o tempo, os neutrófilos passam a predominar;

  • O uso de valores adultos em crianças pode levar a erros graves de diagnóstico.

A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) recomenda o uso de intervalos específicos por faixa etária e sexo, sempre associados ao quadro clínico do paciente.

Como os pais podem contribuir?

Comunicação e preparo

  • Explique o que vai acontecer de maneira tranquila e adequada à idade;

  • Evite mentiras: dizer que “não vai doer” pode gerar desconfiança futura;

  • Incentive o consumo de líquidos (se permitido) antes da coleta para facilitar a visualização das veias.

Orientação sobre o jejum

O jejum deve ser individualizado:

  • Crianças menores de 1 ano raramente devem jejuar por longos períodos;

  • Em muitos exames, como TSH, o jejum não é necessário;

  • Siga rigorosamente as orientações do laboratório.

Papel do profissional da saúde

Técnicas de coleta adaptadas

  • Uso de agulhas de pequeno calibre;

  • Tubos com volumes reduzidos (microtubos);

  • Coleta capilar em casos selecionados.

Abordagem humanizada

  • Acolhimento e empatia são tão importantes quanto a técnica;

  • Evitar contenções traumáticas e permitir o choro como válvula de escape emocional;

  • Reforçar positivamente a coragem da criança após o procedimento.

Considerações finais

A coleta e interpretação de exames laboratoriais em crianças exigem conhecimento técnico, sensibilidade e, acima de tudo, humanidade. Compreender as especificidades do público pediátrico garante não apenas resultados mais confiáveis, mas também experiências mais positivas, tanto para os pequenos quanto para suas famílias.

Referências

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