Contagem de Reticulócitos: Quando Realizar e Valores de Referência

Reticulócitos: você sabe o que são e qual sua função no organismo? Descubra tudo sobre essas células sanguíneas e como elas podem revelar informações importantes sobre a sua saúde.

HEMATOLOGIA

Ariéu Azevedo Moraes

3/13/20254 min ler

lâmina de hemograma corada para contar reticulócitos
lâmina de hemograma corada para contar reticulócitos

Reticulócitos: o que são, quando dosá-los e o que seus níveis indicam sobre sua saúde

Em uma manhã comum no laboratório de análises clínicas, Ana, biomédica experiente, atende um paciente com anemia de origem desconhecida. Ao revisar os exames, ela solicita uma contagem de reticulócitos, buscando entender se a medula óssea está fazendo sua parte no esforço de repor os glóbulos vermelhos perdidos. Essa cena, repetida em muitos serviços de saúde, ilustra a importância desse exame aparentemente simples, mas com potencial diagnóstico poderoso.

O que são reticulócitos?

Reticulócitos são glóbulos vermelhos (eritrócitos) imaturos, recém-liberados pela medula óssea na corrente sanguínea. Representam uma etapa intermediária entre os eritroblastos e os eritrócitos maduros. Embora ainda não completamente desenvolvidos, esses precursores já são funcionais e desempenham papel importante no transporte de oxigênio.

A presença de reticulócitos circulantes no sangue é um indicador direto da atividade da medula óssea, funcionando como um marcador da resposta hematopoiética do organismo. Em situações como anemia, hemorragias ou destruição acelerada de glóbulos vermelhos, a medula óssea responde aumentando a produção de reticulócitos – um esforço do corpo para compensar a perda ou a deficiência de células sanguíneas.

Exame laboratorial: como é feita a contagem de reticulócitos?

A contagem de reticulócitos é realizada por meio de exame laboratorial simples, geralmente com amostra de sangue venoso coletada com anticoagulante EDTA. Após a coleta, a amostra passa por coloração específica – frequentemente com azul de metileno ou novos corantes fluorescentes – que evidenciam a presença de organelas remanescentes dentro das células, característica dos reticulócitos.

Atualmente, muitos laboratórios utilizam equipamentos automatizados de citometria de fluxo, que aumentam a precisão e a padronização do resultado. A contagem pode ser expressa em porcentagem (%) em relação ao total de eritrócitos ou como valor absoluto (x10⁹/L).

Para que serve a contagem de reticulócitos?

A análise da contagem de reticulócitos fornece informações valiosas sobre a função da medula óssea, sendo útil em diferentes contextos clínicos:

1. Avaliação de anemias

Em pacientes com anemia, a contagem de reticulócitos ajuda a diferenciar entre os tipos:

  • Reticulocitose (níveis elevados) sugere uma resposta compensatória adequada, como em anemias hemolíticas ou hemorrágicas agudas.

  • Reticulocitopenia (níveis baixos) indica produção insuficiente de glóbulos vermelhos, como nas anemias por deficiência de ferro, B12, folato ou em casos de doenças da medula óssea, como aplasia.

2. Monitoramento de tratamentos

Durante terapias com suplementação de ferro, vitamina B12, ácido fólico ou eritropoetina, o aumento da contagem de reticulócitos é um sinal de que a medula óssea está respondendo ao tratamento.

3. Controle após hemorragias

Após hemorragias agudas ou crônicas, o exame permite acompanhar se o organismo está conseguindo compensar a perda sanguínea por meio da regeneração de glóbulos vermelhos.

4. Avaliação da eficácia de transfusões

Após transfusões sanguíneas, a elevação dos reticulócitos pode indicar que a medula óssea está se recuperando ou sendo estimulada após a reposição.

Valores de referência: variações por idade e sexo

Os valores de referência da contagem de reticulócitos variam conforme idade, sexo e condição clínica. De forma geral, os intervalos considerados normais são:

População Valor de Referência (%):

Homens adultos 0,5% a 2,0%
Mulheres adultas 0,5% a 1,5%
Crianças 0,2% a 6,0% (dependendo da idade)

Além da porcentagem, o valor absoluto também é usado, sendo normalmente entre 25.000 a 75.000 reticulócitos/mm³. É importante interpretar os resultados junto com outros parâmetros hematológicos, como hemoglobina, hematócrito e índice de produção de reticulócitos (IPR), que ajusta os valores em função da severidade da anemia.

Interpretação clínica dos resultados

Reticulocitose

Um aumento dos reticulócitos no sangue pode ser consequência de:

  • Anemia hemolítica

  • Hemorragias recentes

  • Recuperação de deficiência nutricional (ferro, B12, folato)

  • Ação de medicamentos como eritropoetina

  • Resposta pós-transfusional

Nesses casos, os níveis elevados mostram que a medula óssea está ativa e respondendo a uma demanda aumentada de eritrócitos.

Reticulocitopenia

A baixa contagem de reticulócitos indica produção ineficiente ou insuficiente de glóbulos vermelhos, e pode ser vista em:

  • Aplasia medular

  • Anemia por deficiência de ferro, B12 ou folato (antes da reposição)

  • Insuficiência renal crônica (com produção diminuída de eritropoetina)

  • Infecções virais que afetam a medula

  • Doenças mieloproliferativas ou infiltrativas

Nesses contextos, o exame sinaliza a necessidade de investigar o funcionamento da medula óssea mais profundamente.

Reticulócitos e biomedicina: uma visão laboratorial

Para os profissionais que atuam na área de biomedicina e análises clínicas, compreender o papel dos reticulócitos vai além da leitura de resultados. É preciso integrar esse dado ao conjunto clínico do paciente, avaliar correlações com exames complementares e colaborar ativamente com a equipe médica na construção de um diagnóstico preciso e no monitoramento terapêutico.

Além disso, o exame oferece dados relevantes para estudos epidemiológicos, especialmente em populações com alta prevalência de anemias, desnutrição ou doenças crônicas.

Conclusão

A contagem de reticulócitos é um exame de grande valor na prática clínica e laboratorial. Ao refletir a atividade da medula óssea na produção de glóbulos vermelhos, auxilia médicos e biomédicos no diagnóstico, tratamento e acompanhamento de uma ampla gama de condições hematológicas.

Seja em casos de anemia, resposta a tratamentos ou investigação de doenças mais complexas, entender os reticulócitos é fundamental para compreender como o corpo lida com os desafios relacionados ao sangue e à oxigenação dos tecidos.

Referências

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