A Conexão entre o Intestino e o Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Descubra a conexão entre o intestino e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e conheça 10 exames de sangue essenciais para identificar inflamações que podem impactar a saúde neurológica. Saiba mais sobre como a saúde intestinal pode influenciar o TEA!
ATUALIDADESCAMPANHA DE CORES
Arieu Azevedo Moraes
4/3/20254 min ler
O Papel do Intestino na Saúde do Cérebro: Implicações no Transtorno do Espectro Autista (TEA)
A conexão entre o cérebro e o intestino, chamada de eixo intestino-cérebro, tem se tornado um campo de intenso estudo nas últimas décadas. Trata-se de uma via de comunicação bidirecional entre o sistema nervoso central e o sistema gastrointestinal, mediada por diversos mecanismos como neurotransmissores, hormônios, citocinas e, sobretudo, pela microbiota intestinal — o conjunto de microrganismos que habitam o trato digestivo.
No contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), as pesquisas vêm revelando que alterações na microbiota intestinal podem não apenas refletir condições clínicas associadas ao transtorno, mas também exercer influência direta sobre comportamentos, cognição e desenvolvimento neurológico.
Intestino e TEA: Uma Relação de Mão Dupla
Diversos estudos apontam que pessoas com TEA apresentam padrões distintos de microbiota intestinal em comparação com indivíduos neurotípicos. Essa diferença, chamada de disbiose, pode afetar a produção de substâncias importantes para a comunicação entre os sistemas digestivo e nervoso, como a serotonina — neurotransmissor do qual mais de 90% é produzido no intestino.
Principais mecanismos envolvidos:
Disbiose intestinal: A diversidade e o equilíbrio das bactérias intestinais estão comprometidos, o que pode impactar a regulação de neurotransmissores e a integridade da barreira intestinal.
Inflamação de baixo grau: Crianças e adultos com TEA frequentemente apresentam marcadores inflamatórios elevados, o que sugere uma ativação do sistema imune intestinal com possíveis repercussões neurológicas.
Síndrome do intestino permeável: A permeabilidade aumentada da mucosa intestinal permitiria a entrada de metabólitos e toxinas na circulação sistêmica, contribuindo para a exacerbação de sintomas comportamentais.
Interação metabólica com o cérebro: Subprodutos produzidos pelas bactérias intestinais, como ácidos graxos de cadeia curta, influenciam funções cerebrais relacionadas ao humor, ao sono e à sociabilidade.
Deficiências nutricionais secundárias: Alterações intestinais podem prejudicar a absorção de micronutrientes fundamentais para o desenvolvimento neuropsicomotor, como vitaminas do complexo B, ferro e ácidos graxos essenciais.
Exames Laboratoriais que Auxiliam na Investigação
Para avaliar a existência de inflamações ou disfunções associadas ao intestino e ao sistema imune em indivíduos com TEA, exames laboratoriais específicos podem ser solicitados:
Proteína C-reativa (PCR): Indicador de inflamação sistêmica.
Velocidade de Hemossedimentação (VHS): Detecta processos inflamatórios crônicos.
Interleucina-6 (IL-6) e TNF-alfa: Marcadores de ativação imunológica associados ao autismo em alguns estudos.
Homocisteína: Pode indicar disfunções metabólicas ou deficiência de vitaminas do complexo B.
Zonulina: Relacionada à integridade da barreira intestinal.
IgA Total: Útil na investigação de reações imunológicas intestinais.
Vitamina D: Baixos níveis são comuns em pessoas com TEA e associados à regulação imune.
Anticorpos anti-gliadina (IgG): Avaliam sensibilidade ao glúten.
Perfil de ácidos graxos: Identifica desequilíbrios que podem impactar funções cognitivas e inflamatórias.
Estratégias para Promover a Saúde Intestinal em Pessoas com TEA
Dado o impacto potencial da microbiota na manifestação de sintomas do espectro autista, algumas medidas podem ser adotadas com o objetivo de promover o equilíbrio intestinal:
1. Dieta personalizada
Dietas anti-inflamatórias e pobres em aditivos químicos podem beneficiar a microbiota. A redução de glúten, caseína e alimentos ultraprocessados tem sido relatada como positiva por algumas famílias, embora os resultados variem de indivíduo para indivíduo.
2. Uso de probióticos e prebióticos
Estudos apontam que suplementação com probióticos pode melhorar sintomas gastrointestinais e comportamentais em alguns casos. O uso de prebióticos, fibras que alimentam as boas bactérias intestinais, também é encorajado.
3. Hidratação adequada e prática de atividade física
Beber água regularmente e manter uma rotina de movimentação favorecem a função intestinal e auxiliam na regulação do eixo intestino-cérebro.
4. Redução do estresse
O estresse crônico altera negativamente a microbiota e está associado ao agravamento de sintomas. Técnicas de respiração, brincadeiras sensoriais e musicoterapia podem ajudar no controle emocional.
5. Acompanhamento multidisciplinar
A atuação de uma equipe integrada com médico, nutricionista, psicólogo e terapeuta ocupacional é essencial para definir estratégias individualizadas que respeitem a singularidade de cada pessoa com TEA.
Considerações Finais
A relação entre o intestino e o cérebro representa uma fronteira promissora para entender os mecanismos que envolvem o Transtorno do Espectro Autista. Embora ainda não se tenha respostas definitivas, as descobertas reforçam a importância de abordar a saúde intestinal como parte integrante do cuidado com o autismo.
Investir em estratégias personalizadas de alimentação, suplementação e avaliação laboratorial pode trazer benefícios não apenas para os sintomas gastrointestinais, mas também para a qualidade de vida como um todo. A ciência segue avançando — e com ela, cresce a esperança de um cuidado mais efetivo, empático e integrado.
Referências
Fattorusso, A. et al. (2019). Autism spectrum disorders and the gut microbiota. Nutrients, 11(3), 521.
Kang, D. W. et al. (2018). Reduced incidence of autism-related symptoms following microbiota transfer therapy. Scientific Reports, 9(1), 5821.
Tomova, A. et al. (2015). Gastrointestinal microbiota in children with autism. Physiology & Behavior, 138, 179–187.
Yap, C. X. et al. (2021). Autism-related dietary preferences mediate autism-gut microbiome associations. Cell, 184(24), 5916–5931.
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