A Conexão entre o Intestino e o Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Entenda como o eixo intestino-cérebro e a microbiota intestinal podem influenciar o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Veja o que a ciência já sabe, hipóteses em estudo e implicações práticas para o cuidado.
ATUALIDADESCAMPANHA DE CORES
Arieu Azevedo Moraes
4/3/20255 min ler
O Papel do Intestino na Saúde do Cérebro: Implicações no Transtorno do Espectro Autista (TEA)
A conexão entre o cérebro e o intestino, conhecida como eixo intestino-cérebro, deixou de ser apenas uma curiosidade científica e se tornou um dos campos mais estudados da neurociência e da medicina moderna. Trata-se de uma via de comunicação bidirecional entre o sistema nervoso central e o sistema gastrointestinal, mediada por neurotransmissores, hormônios, citocinas inflamatórias e, principalmente, pela microbiota intestinal — o conjunto de microrganismos que habita o trato digestivo.
No contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), esse eixo ganhou destaque especial. Pesquisas recentes sugerem que alterações na microbiota intestinal podem não apenas refletir condições clínicas associadas ao transtorno, como desconforto abdominal, constipação ou diarreia, mas também influenciar aspectos do comportamento, da cognição e do desenvolvimento neurológico.
Isso não significa que o intestino “explique” sozinho o autismo, nem que exista uma dieta ou probiótico capaz de curar o TEA. Mas reforça a ideia de que olhar para o intestino, para a microbiota e para a inflamação sistêmica pode trazer pistas relevantes sobre o bem-estar global dessas pessoas.
Neste artigo, vamos explorar o que se sabe hoje sobre o eixo intestino-cérebro, como a microbiota intestinal se relaciona com o TEA e quais são as implicações práticas desse conhecimento para o cuidado diário e o acompanhamento multiprofissional.
Intestino e TEA: Uma Relação de Mão Dupla
O eixo intestino-cérebro é uma via de comunicação entre o sistema nervoso e o sistema digestivo, mediada por microbiota, neurotransmissores e inflamação. Em pessoas com TEA, alterações intestinais e da microbiota parecem se associar a sintomas gastrointestinais e a aspectos do comportamento e da cognição, embora não expliquem o transtorno de forma isolada.
Diversos estudos apontam que pessoas com TEA apresentam padrões distintos de microbiota intestinal em comparação com indivíduos neurotípicos. Essa diferença, chamada de disbiose, pode afetar a produção de substâncias importantes para a comunicação entre os sistemas digestivo e nervoso, como a serotonina — neurotransmissor do qual mais de 90% é produzido no intestino.
Principais mecanismos envolvidos:
Disbiose intestinal: A diversidade e o equilíbrio das bactérias intestinais estão comprometidos, o que pode impactar a regulação de neurotransmissores e a integridade da barreira intestinal.
Inflamação de baixo grau: Crianças e adultos com TEA frequentemente apresentam marcadores inflamatórios elevados, o que sugere uma ativação do sistema imune intestinal com possíveis repercussões neurológicas.
Síndrome do intestino permeável: A permeabilidade aumentada da mucosa intestinal permitiria a entrada de metabólitos e toxinas na circulação sistêmica, contribuindo para a exacerbação de sintomas comportamentais.
Interação metabólica com o cérebro: Subprodutos produzidos pelas bactérias intestinais, como ácidos graxos de cadeia curta, influenciam funções cerebrais relacionadas ao humor, ao sono e à sociabilidade.
Deficiências nutricionais secundárias: Alterações intestinais podem prejudicar a absorção de micronutrientes fundamentais para o desenvolvimento neuropsicomotor, como vitaminas do complexo B, ferro e ácidos graxos essenciais.
Exames Laboratoriais que Auxiliam na Investigação
Para avaliar a existência de inflamações ou disfunções associadas ao intestino e ao sistema imune em indivíduos com TEA, exames laboratoriais específicos podem ser solicitados:
Proteína C-reativa (PCR): Indicador de inflamação sistêmica.
Velocidade de Hemossedimentação (VHS): Detecta processos inflamatórios crônicos.
Interleucina-6 (IL-6) e TNF-alfa: Marcadores de ativação imunológica associados ao autismo em alguns estudos.
Homocisteína: Pode indicar disfunções metabólicas ou deficiência de vitaminas do complexo B.
Zonulina: Relacionada à integridade da barreira intestinal.
IgA Total: Útil na investigação de reações imunológicas intestinais.
Vitamina D: Baixos níveis são comuns em pessoas com TEA e associados à regulação imune.
Anticorpos anti-gliadina (IgG): Avaliam sensibilidade ao glúten.
Perfil de ácidos graxos: Identifica desequilíbrios que podem impactar funções cognitivas e inflamatórias.
Estratégias para promover a saúde intestinal em pessoas com TEA
Dado o impacto potencial da microbiota na manifestação de sintomas do espectro autista, algumas medidas podem ser adotadas com o objetivo de promover o equilíbrio intestinal. Um dos primeiros passos costuma ser a dieta personalizada. Muitas famílias relatam melhora ao ajustar a alimentação para um padrão mais anti-inflamatório, com menos aditivos químicos e redução de glúten, caseína e alimentos ultraprocessados. Os resultados não são iguais para todo mundo, mas observar a resposta individual da pessoa com TEA, com apoio profissional, ajuda a entender o que funciona melhor naquele contexto.
Outra frente importante envolve o uso de probióticos e prebióticos. Estudos sugerem que a suplementação com probióticos pode trazer benefícios tanto para sintomas gastrointestinais quanto comportamentais em alguns casos. Já os prebióticos – fibras que servem de “alimento” para as bactérias benéficas – contribuem para um ambiente intestinal mais equilibrado, especialmente quando associados a uma alimentação variada e rica em frutas, verduras e legumes.
A hidratação adequada e a prática regular de atividade física também entram nesse cuidado. Beber água ao longo do dia e manter uma rotina de movimentação favorecem o funcionamento do intestino e colaboram com a regulação do eixo intestino-cérebro. Ao mesmo tempo, é importante olhar para o estresse crônico, que pode alterar negativamente a microbiota e agravar sintomas. Estratégias como exercícios de respiração, brincadeiras sensoriais e musicoterapia podem ajudar no controle emocional e na qualidade de vida.
Por fim, tudo isso ganha mais força quando acontece dentro de um acompanhamento multidisciplinar. A atuação integrada de médico, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional e outros profissionais permite definir estratégias realmente individualizadas, que respeitam a singularidade de cada pessoa com TEA e consideram tanto os aspectos clínicos quanto o cotidiano da família.
Considerações Finais
A relação entre o intestino e o cérebro representa uma fronteira promissora para entender os mecanismos que envolvem o Transtorno do Espectro Autista. Embora ainda não se tenha respostas definitivas, as descobertas reforçam a importância de abordar a saúde intestinal como parte integrante do cuidado com o autismo.
Investir em estratégias personalizadas de alimentação, suplementação e avaliação laboratorial pode trazer benefícios não apenas para os sintomas gastrointestinais, mas também para a qualidade de vida como um todo. A ciência segue avançando — e com ela, cresce a esperança de um cuidado mais efetivo, empático e integrado.
Referências
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